quinta-feira, 28 de abril de 2011

minha vida de menina

É um quarto rosa. É a primeira vez que eu me lembro de morar em um apartamento. A minha mãe me deixou escolher a cor... Na verdade na última hora eu queria que fosse amarelo (minha nova cor preferida), mas como não estava lá, acabou ficando rosa mesmo. Meu primeiro quarto só meu! Meu irmão tem o dele, que é maior e mais perto do banheiro, mas esse aqui é rosa e é meu. Ganhei os móveis que eram do quartinho da minha mãe e da minha tia quando elas eram criança: tudo de palhinha trançadinha e pintado de branco. A cama, o baú, a penteadeira, o detalhe do espelho, a mesa de cabeceira, a preteleirinha. Pedi a Nossa Senhora de Fátima da minha mãe também. Ela é toda dourada e fica numa cúpula de vidro bonita, logo acima da porta. Tá aqui pra me proteger. Consegui trazer pra cá também o som antigo de casa. Agora dá pra escutar meus discos e até minhas fitas no quarto!  Meus brinquedos ficam na prateleira: casa do pônei, pôneis e bonecas. Quando ganhar meu primeiro bichinho de pelúcia, o cantinho dele já tá ali guardado. Tem um armário grandão, de uma parede inteira. A vovó me pediu pra escolher o puxador das portas. Eu escolhi um de porcelana, com umas rosinhas desenhadas. O quarto de costura da vovó fica bem encima do meu quarto... Tem vez que dá pra saber quando ela resolve costurar de madrugada: é só escutar o barulho do salto no teto. Ela trouxe pra mim de uma ida a Cuba um relógio do Tocopan, mascote dos jogos pan-americanos de Havana. Ele fica na parede, logo acima da mesa de cabeceira. Mas é de ponteiro e sem números. E difícil ler as horas nele. Mas é tão bonitinho. E é de Cuba! Meu pai fala tão bem de lá, que as crianças lá todas vão à escola, que não falta remédio. Quero muito ir lá um dia. Tem outro quadrinho, que eu montei com fotos minhas com meus cachorros. Tem com a Chita, a Aline e o Nero. A foto com o Nero é a mais bonita, foi meu pai quem tirou. Comecei a montar e desmontar coisas e descobri que adoro fazer isso.
Um quartinho de menininha. Os móveis combinam, cheio de brinquedos espalhados. Dá pra notar que a decoração também foi feita por uma criança: quadros distribuídos ao acaso, vários bonequinhos de porcelana lascados enfeitando a penteadeira. Naquela época eu ainda achava que tinha que guardar e usar tudo que ganhava. Não tinha nenhum livro lá. A sensação que tenho hoje é de que tudo é muito pequeno, apesar de saber que não é. Foi o apartamento para onde mudamos pouco depois da separação dos meus pais. Sem traumas, mas talvez com certa necessidade de deixar evidente a presença e influência paterna ali.  Até um porta-retratos com foto dele novinho coloquei. Ele sempre fez questão de ser uma influencia forte pra mim. O telefone de Bart Simpson na mesinha de cabeceira é o mesmo que eu uso até hoje. No fundo, acho que são muitas as semelhanças entre aquele quarto e o meu atual. O de hoje é azul-hortência, e fui eu quem pintou. Mas a ordem aleatória das coisas, os milhares de enfeites espalhados, a marca da família, tudo continua ali. Até um santinho da Nossa Senhora de Fátima na cabeceira da cama. Só que ao invés do som antigo de vinil e fita, um iPod. Ao invés de brinquedos, tenho livros. 

janeiro de 2010

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