domingo, 13 de dezembro de 2009

Epifania

Enfim descobri porque as palavras "sexo" e "Rock´n´roll" são vistas juntas com tanta frequencia...

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Amo estes remédios que me fazem amar

INSANO.

Não acho outra palavra pra descrever o que passei hoje.

Tenho grupos diferentes de amigos. É muito nítido que em alguns não posso falar algumas coisas, pois "impressionariam" algumas pessoas. Em outros, sei que pessoas medem palavras pra não me impressionar.
Pois bem. Hoje saí com amigas do grupo em que EU precisaria medir palavras. Qual não foi minha surpresa em ver que, dali, eu era quem mais tinha uma noção da realidade corrente.
Explico: uma delas, teve crise de ansiedade e síndrome do pânico. Muito moderna. Se encheu de remédio e não pode beber senão arranca a roupa em público. A outra toma alguns remédios para depressão. Elas inclusive trocam receitas.
Ok, já estive com o pé na beirinha da depressão. Sei bem que para cair em fugas (remédios, álcool - "o gelol da alma") é muito, mas MUITO fácil. Mas nunca perdi e nunca quis perder minha noção de realidade. Sempre que quis ou precisei sair da minha consciência, ironicamente, fiz isso conscientemente. Sabia que depois teria  que enfrentar o mundo inteiro pela frente... sendo ele lindo ou não. E haja fígado para aguenta-lo! Atualmente, quase sempre ou não.
Cadê a coragem de enfrentar as coisas? De admitir que precisamos de ajuda, mas que ela não precisa vir só de químicos?
Parece que andaram perdendo as FORÇAS, a vontade de lutar. Ninguém precisa (nem deve) lutar sozinho, achar que dá conta de tudo sozinho. Mas muletas servem pra dar o primero passo, e não pra sustentar pra sempre (devaneio mór: tem dia que penso que o que falta pra algumas pessoas é uma semana na roça. Acordando cedo, tirando leite, formando pasto, juntando gado, consertando curral... Coisas que dão uma certa noção do todo, de como as coisas começam, de como a vida não precisa ser tão difícil, só ser felizmente vivida).

"Admirar de longe é bom, mas viver de perto, mesmo com os problemas, é melhor."

Viva seus problemas, enfrente seus problemas. Não digo que depois fica mais fácil, mas ao menos você aprende a enfrentar. Aprende a "dar o salto em direção ao querer", a saber o que VOCÊ quer. Você em sua forma inalterada. 

terça-feira, 3 de novembro de 2009

qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência

O que eu mais gosto de ter um lugarzinho pra escrever é o descompromisso. Aqui, posso escrever quando quiser, o que quiser, do jeito que quiser, sem medo. Dizer que minhas idéias não surgem das coisas que eu vivo é bobeira. Agora, dizer que só escrevo sobre situações por que passei é exagero.
Portanto, nada aqui é inteiramente verdade. E nem inteiramente criado.
Como qualquer outra pessoa, o material que tenho pra me inspirar é a minha vida. A minha grande brincadeira atualmente tem sido pegar um fato, um sentimento, uma idéiazinha que surge e tentar extrapolar, ir além. Criar encima daquilo. Conseguir colocar no papel (ou na tela no computador, ou na do celular...) um devaneio meu tem sido uma experiência fantástica. E continuar divagando!  Pensar no "e se...". E inserir coisas do dia-dia, e incrementar com o que podia ter sido, ou o que sentir em determinada situação hipotética... é bem legal. E tem sido bem válido. Válido pra mim, não sei se pra quem lê (se é que alguém lê...). Descobri que se não começasse, nunca saberia se sei ou não organizar minhas idéias. Sei que ainda não está bom, mas o único jeito de melhorar é a prática. Ao menos, tenho praticado.

Tenho buscado a liberdade na minha vida, em vários aspectos. A liberdade de escrever inclusive. E como ela pode ser bela.



quarta-feira, 28 de outubro de 2009

laziness

Tem dia que a vontade
é fazer igual minha cachorrinha:
virar de barriga pra cima e pedir
- Coça?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

aconteceu numa tarde de domingo

"se não encontrar um amor, podia ao menos encontrar um marido" dizia ela enquanto pintava as paredes do quarto


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Detalhes

Já era tarde. Bem tarde. A quantidade de álcool colocada pra dentro também já era grande. Bem grande. Já dava até pra esquecer o sufoco dos últimos meses, os dias e mais dias passados sozinha. Não tão sozinha, afinal, a cachorrinha sempre estava ali. Sozinha de gente. Longe de casa a mais de 29 semanas, um almoço acabou virando uma cerveja num bar, que puxou um convite para ir a um casamento. Putz, adoro casamentos! Mas será que não é meio estranho ir sem conhecer os noivos? Nada, cê tá com a gente!
Ok, com cabelo curto toda festa fica mais fácil. E lá se foi. Até bem bonita.
A cerimônia foi linda, o lugar era muito bacana. Ela até chorou, como sempre. Mas, enfim, chegou a festa. Oba! Cai na mão dela um copinho de whisky (com energético, pra descer facinho). Depois mais um, e mais um, e outro... Foi assim que chegou no tarde ébrio lá do começo. Quando notou, estava descalça (ela detesta salto) dançando músicas dos anos 60 (que ela adora dançar essas músicas).
Passou um rapaz, que mais cedo, ainda no bar, tinha sido apresentada e simultaneamente informada ao pé do ouvido que ele estava disponibilissímo. Quer saber, por que não? Chama ele ali pra mim por favor? Oi. Oi. Preciso te falar uma coisa. Fala. É que os homens... os homens, não valem as pilhas do meu vibrador. (Risinho sem graça).
Corta pro beijo, pro amasso, pro vômito no banheiro, pras camareiras expulsando ela da festa. Ele foi um gentleman, acompanhou-a no taxi, desceu na casa dela. Ela que pagou.  Esperou ela tomar um banho (tava incomodadíssima com um suposto cheiro de vômito).
E ele acabou ficando por lá, conversando até de manhã na cama. Quando ela melhorou, eles acabaram terminando o que tinham começado. Sim, o sexo. Ela tinha recentemente terminado um namoro estranho, e desde então, só o vibrador fazia companhia naquelas noites quentes. Sim, o vibrador existia mesmo, e movido à pilhas recarregaveis, pra ser ecologicamente correto.
Tava lá a chance! Ia tudo muito bem, até ela descobrir o tamanho da encrenca em que estava. Era mínimo, minúsculo, quase imperceptível. Bem pequeno. Não fazia nem cosquinha. Ela já tinha conhecido um cara assim, mas ele tinha outras qualidades que nem deixaram ela perceber esse detalhe. 
Não dessa vez. Além de pequenino, ele não se preocupou em fazer nada de mais. Na verdade, não se preocupou nem com o básico.
Ui, gozei. Como assim??!!??! Ela nem tinha certeza se tinha começado! Ela virou e tentou dormir. Não conseguiu, ele roncou. Muito. E pediu carona pra casa quando acordou. Voltando pra casa ela pensou muito. Em como pequenos detalhes fazem uma grande diferença sim. E em como ele, realmente, não valia as pilhas. Ainda bem que ela se avisou antes.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

accidentally in love

1. o link do título é o maior clichê do mundo
2. minhas 3 palavras preferidas: clichê, peculiar e ... sempre esqueço uma delas....

Ok, é dificil, mas um dia eu tenho que admitir: CHEGA!!!!
Aos 19 anos eu tive que escolher o que ia fazer pro resto da minha vida. No final dos 26, descobri que quero outra coisa.
Diga-me: como começo uma mega-loja-completa de quadrinhos? Como desisto da faculdade que eu fiz e gosto muito, pra trabalhar com algo que me faz mais feliz?

:: COMO CHUTAR O BALDE E COMEÇAR DO ZERO? ::

Nos últimos dias pude ver que não sou um ET, e que eu realmente AMO esse mundo... me sinto mais a vontade, mais no meu lugar...

...e outra vez, dói pra tomar coragem. Dói pra dar um passinho. Dói pra descobrir se uma coisa é diversão ou se é possível ganhar a vida com algo que me diverte.

"Love is suicide"

ou não?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

once in a while

Por que ele ainda faz isso comigo?
Os anos passam e nada muda...
Será que um dia eu esqueço isso tudo?
Ou um dia ele descobre que só vai ser feliz comigo?
Ou, de repente, vai acordar resolvido a largar a menininha que afaga o ego dele e tentar construir uma vida comigo?

Toma jeito, Dona Anita!

Não deve ser bem assim que funciona...
Passar horas e mais horas conversando, rindo, concordando com besteiras da vida, tomando excelentes cervejas juntos, nunca quis dizer que pode ser amor.
...isso porque a parte do sexo excelente nem foi citada.

Deus do céu, será que o jeito é me afastar mesmo?
Ou brigar por ele?
Continuar chorando de longe ou chutar o balde pra rir de perto?

Fim do mês completam 3 anos disso.
Ok, ouvir Jazz não ajuda em nada.
Até estricnina é melhor.

Ouvir jazz num show lindo com ele & ela junto...

Acho que fico com a estricnina mesmo.

Dói menos

"
I don't know what love is
I'm selfish and lazy
And when I get scared I can act like I'm crazy
But when I think of your kisses
I'm still gonna smile
I'm still gonna miss you
Once in a while"

segunda-feira, 22 de junho de 2009

... que todas as cervejas sejam Leffe

Hoje, tomando uma cerveja belga chamada Leffe (estava guardada a alguns meses aqui em casa pra comemorar uma notícia boa que chegou hoje), lembrei de uma propaganda beeem antiga.
Era das bolachas Mabel. Acho que vi em algumas revistinhas da turma da Mônica... Era em quadrinhos, um cara indo pro paredão, com um pelotão de fuzilamento ao fundo. O chefe do pelotão perguntava ao condenado se ele tinha um último desejo. Ele respondia: "que todas as bolachas sejam Mabel".
É uma associação boba, mas hoje, tomando essa maravilhosa cerveja Leffe, pensei que se tivesse um último desejo agora seria: que todas as cervejas fossem Leffe. É injusto que todas as outras cervejas do mundo coexistir com a Leffe.

Tim-tim

Música de casamento II

perfeita pra entrada do noivo...


segunda-feira, 15 de junho de 2009

TPM #88

Acompanho a TPM (Trip para Mulher), dês do primeiro número... Já assinei e parei de assinar algumas vezes. Hoje assino a Trip (de homem mesmo...) pois acho, no geral, os textos melhores que da versão feminina. Vendo a versão on-line da TPM deste mês, em meio a um texto sobre o amor em meio aos recursos digitais, achei esse pedacinho de texto do Xico Sá muito interessante:

"De acordo com (...) Xico Sá, a melhor maneira de declarar o amor é sem faixas ou emoticons. “Já declarei ‘eu te amo’ até em suruba lounge, mas hoje só digo depois de dormir mil e uma noites com a moça. E jamais na cama. Lugar de dizer eu te amo é na mesa do café da manhã e não com palavras. Basta pisar no pé dela, falando uma espécie de braile ou código Morse da felicidade clandestina.”"

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Trilha certa

Uma amiga muito querida me pediu ajuda pra escolher músicas pro casamento dela. Vez ou outra escuto alguma interessante, mas sempre acabo esquecendo.
Hoje lembrei de duas. As imagens dos vídeos não são muito bacanas, mas como o que importa são as música, lá vão:



e



Não encontrei a versão dos Beatles, que acho mais interessante. Alguma outra sugestão?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Preto com um buraco no meio


Lá nos idos de 1988, meu pai começou a falar de um disco que tinha sido lançado de um grupo não muito conhecido, que fazia uma revista que ele lia muito. O grupo era o então desconhecido Casseta & Planeta, que fazia a excelente revista Casseta Popular. Falo que é uma revista excelente com conhecimento de causa, ainda existem algumas na casa dele em ótimo estado de conservação.
Voltando ao disco: o nome era "Preto com um buraco no meio". Era hilário... A gente ia nas lojas e perguntava se eles tinham o disco preto com um buraco no meio. Lembro de um atendente que disse que tinha vários, que na verdade, todos discos que ele tinha lá eram pretos com buraco no meio...
Um dia enfim conseguimos! E nem foi o disco, foi uma fita K7, original. Até hoje desconfio que meu pai só deu aquela fita pra mim e pro meu irmão pra provocar minha mãe (tinham se separado a pouquissimo tempo...). Eram muitos palavrões e brincadeiras pra apenas 12 faixas. Muitas das brincadeiras eu não entendia, tinha 7 ou 8 anos. Mas sempre perguntava o que significava tal e tal coisa... Meu pai explicou grande parte das músicas... a encenação do Bussunda como Tim Maia, o que foi o Mobral entre outros.
Bom, um belo dia meu irmão emprestou a nossa fita pra um colega que nunca mais devolveu. Fiquei muito chateada com isso... No início do ano passado resolvi procurar na internet e fiquei muito surpresa: achei!!!
Compartilho aqui o link. Faz lembrar de como o C&P já foi criativo, escrachado, tosco e engraçado. Pra quem já conheceu, bom pra matar saudade. Pra quem não conhece, boa diversão!

terça-feira, 26 de maio de 2009

About

Eu tenho 26 anos, sou mineira de Beagá, engenheira florestal. Escolhi essa formação porque queria contribuir de alguma forma com as coisas que não vejo como certas. Como nunca levei jeito pra política, não sou criativa pra artes, resolvi trabalhar na área ambiental.
Moro há um ano e meio sozinha, longe da minha família e dos meus amigos. Tenho uma cachorrinha salsicha chamada Branca Margarida, que usa uma fitinha rosa do Senhor do Bonfim de coleira. Converso tanto com ela que até acho que ela responde.
Acredito em signos e acho que sou mais tensa por ser virginiana. Tenho um tanto de mania... só lavo louça de luvas, só uso grafite 2B e caneta azul. Adoro cheiro de chuva e de amaciante. Adoro programa do Chaves, The Office, The Family Guy e lógico, Simpsons.
Depois de 10 anos, recomecei a ler Grande Sertão: Veredas. Amo biografias. Me apaixonei pela Carmen Miranda depois de ler a dela. Tô na fase de biografias musicais: Carmen, Nara e Tim. Acho O Apanhador no Campo de Centeio fantástico e que o Pé na Estrada do Kerouac é obrigatório. Não gostava de poesia até conhecer o Drummond e o Vinícius.
Sou apaixonada por quadrinhos. Acho que começou com a turma da Mônica. Quino é genial, mas elegeria o Henfil como mestre. Quando tinha uns 10 ou 11 anos ganhei uma coleção de revistinhas da DC de um primo. Foi quando me apaixonei pelo Batman, Alex Ross, Guy Gardner, Frank Miller, fase cômica da Liga da Justiça, Novos Titãs. Hoje acompanho pelos sites os cartunistas brasileiros que gosto: Angeli, Adão, Laerte... tenho tirinhas deles recortadas de jornal de uns 15 anos atrás. Gosto muito do Dahmer, Salimena, Bichinhos de Jardim, Arnaldo Branco, Sica, Benett, Carranza, Chiquinha, Magias & Barbaridades, Ryotiras, Wagner & Beethoven. O Quase Nada do Bá e do Moon me emociona. Na verdade, tudo que já li deles - praticamente tudo - me emociona. E muito.
Solteira. Perdi um pouco da fé nos homens. Ok, sou exigente e chatinha assumida. Nunca trai, mas não acredito em fidelidade. Adoro sair, detesto cantadinhas e que encostem muito em mim. Vi em algum lugar uma descrição que serve pra mim: sei que não sou incrivelmente bonita, não sou especialmente inteligente nem totalmente sincera, mas sou uma mulher de verdade.
Minha família e meus amigos são importantes demais. Tenho costume de cuidar das minhas amigas. Elas me acham muito sarcástica. Uma delas levou um susto outro dia, quando mostrei pra ela a foto do vestido de noiva dos meus sonhos. Ela nunca achou que eu fosse chegada nessas coisas de mocinha.
Em musica, gosto de quase tudo. Quando não sei o que quero escutar, coloco Cake que dá certo. Adoro samba, frenquento sambas mas não sei sambar. Uma amiga me disse que pra sambar bem é só não olhar pros pés, e balançar a pélvis como Elvis. Sei não. Um samba: O sol nascerá. De eletrônicas, House salva a pátria. Tive fase adolescente roquenrou e ainda gosto muito daquilo tudo. Ramones é fantástico, Jorge Ben me empolga. Mutantes, Tropicália e Secos & Molhados também. 70% do que escuto foi feito antes que eu nascesse. Do que veio depois disso: Roberta Sá, Camelo, Céu, PLAP, Little Joy, Mundo Livre, Escambo, Graveola, Pato Fu, Seu Jorge, Mombojó. Tenho flertado com o Jazz. Costumo tomar como verdade as letras de musica e poesias que gosto.
AMO cerveja! Adoro experimentar novas marcas e tipos. A Colorado Apia foi a melhor dos últimos tempos.
Nunca sei como finalizar os textos... costumo deixar reticências com a ultima coisa que consegui pensar. Pura incompetência e falta de vergonha na cara.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Para uma menina com uma flor

Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, que aliás você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.


E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você quando sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, como uma santa moderna, e anda lento, a fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.


E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara– na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.


E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.


E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora – tão purinha entre as marias-sem-vergonha – a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos – eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações – porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.



Vinícuis de Moraes in Para uma menina com uma flor (crônicas)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Mobral

O ontem já passou
O hoje é o que é
E o amanhã poderá não mais chegar
Num mundo sem flores
Só resta ao homem amar
Mesmo sabendo que amar sem ser amado
É como limpar o cu sem ter cagado

by Casseta & Planeta, em 1988